Exemplar entrada na ficção distópica
4 stars
Em "O Deus das Avencas" (2021), Daniel Galera entra de cabeça na ficção científica. Já tinha adorado "Barba Ensopada de Sangue" e gostei especialmente desse agora, não apenas por ser meu gênero predileto, mas também pela maestria literária.
São três novelas distópicas.
A primeira, que dá nome ao livro, na verdade, não é ficção científica, mas o cenário é a distopia contemporânea, em que um casal passa dificuldades aguardando um parto iminente durante a eleição de Bolsonaro. Senti-me dividido: inegavelmente, a história é poderosa e relevante, mas não me pegou tanto – senti-a mais como uma longa crônica.
A segunda, "Tóquio", avança mais ou menos uma geração no futuro, em um Brasil devastado pelas alterações climáticas e a contaminação de novas doenças. O protagonista precisa lidar com um dispositivo onde a consciência de sua mãe falecida foi copiada. O retrato desse tipo de tecnologia é muito mais crítico e reflexivo …
Em "O Deus das Avencas" (2021), Daniel Galera entra de cabeça na ficção científica. Já tinha adorado "Barba Ensopada de Sangue" e gostei especialmente desse agora, não apenas por ser meu gênero predileto, mas também pela maestria literária.
São três novelas distópicas.
A primeira, que dá nome ao livro, na verdade, não é ficção científica, mas o cenário é a distopia contemporânea, em que um casal passa dificuldades aguardando um parto iminente durante a eleição de Bolsonaro. Senti-me dividido: inegavelmente, a história é poderosa e relevante, mas não me pegou tanto – senti-a mais como uma longa crônica.
A segunda, "Tóquio", avança mais ou menos uma geração no futuro, em um Brasil devastado pelas alterações climáticas e a contaminação de novas doenças. O protagonista precisa lidar com um dispositivo onde a consciência de sua mãe falecida foi copiada. O retrato desse tipo de tecnologia é muito mais crítico e reflexivo do que costuma aparecer nas histórias do tipo — para as quais não tenho muita paciência —, resultando em ficção pós-humana e pós-apocalíptica exemplar. Tem romance também.
A terceira, "Bugônia", parece se passar no mesmo Brasil distópico da anterior, algumas décadas mais para frente talvez. O cenário é uma comunidade pós-civilização isolada em uma montanha que, em uma misteriosa conexão com a natureza, adquire imunidade contra uma epidemia mortal que mira apenas humanos. Obviamente, é uma questão de tempo para furarem a redoma. É uma belíssima história sobre simbiose, códigos sociais e heroísmo feminino, quase em tom de fábula.
Já espero ansioso que Galera escreva mais ficção especulativa.