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commented on Agnotology by Robert N. Proctor

Robert N. Proctor, Londa Schiebinger: Agnotology (Paperback, Stanford University Press) No rating

What don't we know, and why don't we know it? What keeps ignorance alive, or …

Foram poucas páginas, mas é muito esclarecedor. Escrito em 2008, é extremamente atual no que se refere a revelar, de forma certeira como a Direita age. Exemplo:

"Jastrow believed that if the American people understood SDI, they would support it, but for this to happen journalists had to present it correctly. The institute’s first initiative, therefore, would be a 'two-day training seminar for journalists on the fundamental technologies of Strategic Defense.' Over the next two years, the institute built up its program activities in the manner that Jastrow had hoped. By 1986, it had clarified its goal and was moving toward getting its message directly to where it counted, namely, Congress. Through press briefings, reports, and seminars directly aimed at Congress members and their staff, the institute promoted its message." (p. 63).

Este tipo de expediente lembra muito o que o lobby de uma vertente ideológica de determinado país situado no Oriente Médio tem feito ultimamente. Por exemplo: convidando Ministros da Suprema Corte de um país sul americano para ver, in loco, como foram os ataques realizados por um grupo considerado terrorista. O evento é promovido por uma Confederação, com passagens de avião (de classe executiva e/ou primeira classe) todas pagas, idem para hospedagens em hotéis de 5 ou 6 estrelas. Também têm feito isso com jornalistas, para reforçar a narrativa que querem imprimir sobre o conflito.

Aqui, também:

"A consistent theme of Marshall Institute materials was the demand for 'balance'— that the UCS position papers on SDI were one-sided, and journalists were obligated to present 'both sides.' [...]but those two sides had very different numbers of experts associated with them. [...] If journalists were to give both sides equal weight or space, this would effectively misrepresent the situation in the scientific community. (p. 64).

Essa é uma tática muito usada pela Direita. A filial brasileira de um canal estrangeiro de notícias, num programa que promove um "Grande Debate" fazia muito essa falsa equivalência, colocando, de um lado, uma pessoa com argumentos embasados; de outro, uma pessoa sem fundamentação nenhuma, dizendo absurdos que qualquer um com o mínimo de bom senso não levaria a sério. Outra emissora que promoveu muito essa visão e o "Doisladismo" foi uma conhecida rádio que, apesar de antiga, não é velha em seu nome. Que, aliás, continua com a mesma linha editorial.

Tudo isso converge para o ponto que me motivou a leitura deste livro: a promoção da Ignorância.

Faço o seguinte raciocínio: 1) Existem mais pessoas ignorantes ou esclarecidas? Ignorantes; 2) É mais fácil convencer e enganar pessoas ignorantes ou esclarecidas? Ignorantes.

Logo, principalmente no Brasil, há uma "base instalada" gigantesca de gente ignorante. A argumentação voltada aos ignorantes ajuda, inclusive, a retroalimentar a promoção da própria ignorância.

Em suma: quando vemos uma pessoa de Direita falando absurdos, com um discurso negacionista, muita das vezes, quem fala não acredita nisso. Mas possui a desfaçatez necessária para propagar esta mensagem, que é facilmente assimilada pelos ignorantes (em especial aqueles que são fisgados pelos gatilhos emocionais de bordões como "família" ou "Deus"). Aos esclarecidos, minoria, mesmo que se indignem não serão capazes de convencer a massa ensandecida, que o atacará impiedosamente. O esforço de um divulgador científico é inversamente proporcional à disseminação de fake news, por exemplo. Trata-se de uma luta inglória.

Mas não estou desanimado, muito pelo contrário: além de ser uma pessoa "esclarecida", me anima ter o esclarecimento sobre a propagação da ignorância. Antes de qualquer coisa, é preciso reconhecer que o problema existe e conhecer seu âmago. E, nas últimas sessões de leitura, pude perceber claramente os expedientes utilizados pela Direita, que não são TÃO sofisticados assim. O problema é que a população em geral ainda vive na menoridade que, segundo Kant, "é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem".