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Sidarta Ribeiro: O Oráculo da Noite No rating

A partir de informações históricas, antropológicas, psicanalíticas e literárias, além das referências mais atualizadas da …

Felizmente, nos capítulos 16 e 17, o livro voltou a focar mais diretamente nos sonhos.

Achei legal a ideia do sonho como uma espécie de campo de treinamento, simulador para enfrentar situações reais. E a explicação sobre a diferença dos sonhos de animais movidos apenas pelo instinto e aqueles dotados de razão cujas vidas possuem problemas em menor escala e maior quantidade.

Citações:

Capítulo 16. Saudade e cultura

Mesmo que ocasionalmente conte com ajuda sobrenatural, não é com inspiração divina que Ulisses vence a guerra, mas com sua lúcida capacidade de viajar dentro de si para se imaginar no lugar do outro.

[...] no mundo natural os problemas dos animais são sempre os mesmos: não morrer, matar algo para comer e procriar [...] Entretanto, para o ser humano vivendo em sociedade e provido de condições materiais para existir, em vez de três grandes problemas existem milhares de pequenos aborrecimentos, limitações e desejos frustrados. Nessas circunstâncias, o sonho se torna uma tessitura muito mais ambígua e complexa, como vários quebra-cabeças sendo montados ao mesmo tempo, uns sobre os outros, um palimpsesto de narrativas. Isso apenas aumenta a necessidade de separar e interpretar os diferentes fios narrativos entremeados na experiência onírica.

Nas palavras de Mark Solms, o propósito de aprender não é manter registros, mas gerar previsões.

Capítulo 17. Sonhar tem futuro?

[...] quando sonhamos, imaginamos, planejamos e realizamos.

Se a vigília é o tempo presente, ao transe onírico pertencem o futuro e o passado, tudo que não foi ou que ainda pode ser, o horizonte de futuros possíveis: o mundo dos contrafactuais.

Narrar sem inibições ajuda a navegar a trajetória de frustrações e a mitigar a dor — não apenas através das inúmeras psicoterapias de autoconhecimento, mas crescentemente, explosivamente, pelo uso febril de Facebook, Instagram, Twitter, blogs, vlogs e todo um novo universo de formas de contar histórias. Inflama-se e gira cada vez mais rápido a catraca cultural que iniciamos em torno da fogueira, nossa fábrica desgovernada de narrativas.

a sensação de termos um sonho único vem da presença da autorrepresentação do sonhador num único sonho por vez, assim como a presença de um ator em um cenário específico não impede que o estúdio possa rodar vários filmes simultaneamente [...] cenários e elencos inteiros eram mudados de repente com grande atropelo, como se meu eu sonhador tivesse saído de seu próprio sonho e entrado noutro [...] ainda estamos longe de construir androides capazes de sonhar com carneiros elétricos — título do livro que inspirou o filme Blade Runner [...]