Criatividade e criticidade na arte
Um dos aspectos mais cobrados com relação ao debate sobre a arte é o processo de produção da arte. Isso se dá por conta da falta de estímulos aos mecanismos artísticos que tendem a impulsionar a produção de cultura em determinada localidade. Que por sua vez se dá por falhas no aspecto da gestão pública, assim como em segmentos sociais que lidam com a arte, transformando a mesma em mero entretenimento, sem um compromisso com a profundidade crítico-reflexiva (veículos de comunicação em massa, por exemplo).
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Hipervalorização da criatividade: ao mesmo tempo em que as estruturas sociais cerceiam a possibilidade de o indivíduo agir de modo espontâneo e autônomo, não valorizando habilidades artísticas específicas (interpretação, produção, ação), o mercado acaba por optar por aqueles que detêm criatividade (inovação é uma das máximas na dimensão corporativa). Como esperar que a sociedade produza culturalmente/artisticamente se não existem mecanismos que sustentem e incentivem essas práticas?
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Arte onipresente: [...] uma música que inove em romper com o padrão 'viral' e estabeleça uma crítica política, ambiental, social ou cultural tende a provocar uma reação no indivíduo (ainda que mínima, foi oportunizada uma reflexão, diferente de quando a arte se torna uma mera reprodução sem sentido e com mínima simbologia).
— Redação para concursos, Enem e Vestibulares Aprenda redação com lógica by Adriana Figueiredo, Rodolfo Gracioli (Page 147 - 148)
Aqui, o livro traz tópicos bem relevantes no título 7.3 DESVALORIZAÇÃO DA CULTURA E DA ARTE NO BRASIL.
Primeiro, sobre a falta de investimento na arte, tanto dentro do sistema educacional quanto em manifestações culturais. O que sobra é a arte apenas como entretenimento na mídia de massa, sem seu aspecto crítico-reflexivo.
Por outro lado, num segundo momento, há uma valorização da criatividade no mercado de trabalho que não pode ser obtida em maior grau, justamente pela falta de incentivo na etapa de formação. É como um antigo grafite feito por uma gangue que existia na minha cidade dizia: "A sociedade que nos critica é a mesma que nos educa".
Além disso, uma música reflexiva pode despertar um indivíduo para cidadania, na luta por seus direitos, por exemplo. Enquanto as músicas "alienantes" apenas reiteram sua condição. Com o advento das redes sociais das big techs, tem-se não somente a arte pendendo para entretenimento como também o foco na distração, sendo a próxima "fronteira" a adição, o vício:
Percebo a diferença que faz uma formação cultural básica ao ver a história de algumas bandas da Suécia, por exemplo. Em entrevistas, já vi integrantes comentando que possuem uma boa educação musical teórica e prática nas escolas públicas.
E, mesmo em bandas mais "toscas", percebo que há um diferencial nas composições, harmonia bem trabalhada, dissonâncias bem executadas. Sem contar as letras, que muitas vezes adquirem contornos literários e/ou veia filosófica bem forte (inclusive, muitas possuem inspiração em livros lidos pelos integrantes, hábito também incentivado e normalizado naquele país). Não que no Brasil não existam músicos com tais qualidades, pelo contrário, mas por aqui o acesso a este tipo de educação e repertório cultural não é para todos.