Back
Byung-Chul Han: Sociedade do Cansaço (Paperback, Português language, 2015, Editora Vozes) 5 stars

Os efeitos colaterais do discurso motivacional O mercado de palestras e livros motivacionais está crescendo …

O futuro se encurta numa atualidade prolongada

No rating

Tenho muita dificuldade e preguiça para fazer resenhas. Após ler a obra, vi que existe um documentário de mesmo nome e comentei num vídeo do trailer. Acabou ficando grande e compartilho aqui como se resenha fosse.

Atualização: Agora o documentário está disponível no Youtube e com legendas em português:

Byung-Chul Han: Sociedade do Cansaço (Documentário Completo, 2015)

Acabei de ler o livro. Confesso que, num primeiro momento, não consegui absorver tanto como em "Agonia do Eros". Confesso que muito se deve ao fato de eu não possuir contato mas profundo com as obras de Hannah Arendt, Nietzsche e Melville, que são a base dos respectivos capítulos nos quais são citadas. Ainda assim, depois de repassar tudo, lendo meus grifos, é possível se debruçar em muita coisa que nos faz parar para pensar e ver as coisas sob outra perspectiva:

  • "O igual não leva à formação de anticorpos" (A questão imunológica, de ter um contato, uma pequena dose com o "negativo" para não padecer de um mal maior ou para que se construa algo novo e não nos saturemos ou não nos afoguemos em nós mesmos [para trazer também uma expressão de "Agonia do Eros"])

  • Economia da Atenção. A multitarefa, o modo como estamos sempre "atentos" a uma multiplicidade de coisas, mas nunca nos aprofundamos em algo específico. Aliás, escrevi um texto sobre o assunto tempos atrás, longo, mas (modéstia parte) interessante: Economia da Atenção. Estamos remando ou sendo levados pela correnteza?.

  • Ócio. Termo que foi cristalizado de forma pejorativa em nossa sociedade, mas ao vê-lo citado no livro, logo me lembrei de Domenico De Masi e seu Ócio Criativo (vale a pena assistir aos Roda-Viva com ele: em 1998 e em 2013). Enquanto o Sono é um Descanso Físico, o tédio (ócio) é um Descanso Espiritual (para Mente). Quem nunca se pegou parado, olhando para o nada e quando alguém nos chama à atenção, não nos lembramos no "quê" estávamos pensando? Outro evento tratado de forma pejorativa, como se estivéssemos no "Mundo da Lua", mas que representa uma necessidade, algo salutar.

  • "O futuro se encurta numa atualidade prolongada". O excesso de positividade que o autor tanto realça, a sociedade do desempenho, tudo isso leva não à inovação, mas à reiteração, fazendo com que o futuro não passe de um presente com uma embalagem diferente.

  • Sabá. Por fim, o intermédio, o descanso. O tempo de paz. Parece óbvio que precisemos de um ou dois dias de descanso, de folga. Mas é fato que muitas vezes nos comprometemos a tantos eventos e diversões, que o feriado, folga, férias são tão ou mais estressantes do que a rotina cotidiana. E, a depender de como os utilizamos, ao invés de levar a uma contemplação, reflexão, pode acabar tendo tão-somente um efeito "anestésico" para nos preparar para mais uma temporada de Cansaço.